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07/03/2012

Carla Kamitsuji: diário de uma médica sem fronteira

A psiquiatra Carla Kamitsuji trocou a vida que levava em São Paulo pelo perigo - e se encontrou. Há dois anos, trabalha com populações vitimadas pela violência, que passam fome, enfrentam epidemias, a angústia, a depressão e as recorrentes ameaças de exércitos em guerra



Em 2007, a psiquiatra Carla Kamitsuji, 32 anos, fechou o consultório em São Paulo, pediu demissão de três empregos, trocou os sapatos por tênis e partiu para Uganda, na África, em sua primeira missão em Médicos sem Fronteiras (MSF), organização humanitária internacional presente em mais de 70 países. Desde o grave acidente de carro que sofrera, aos 25 anos, por ter dormido ao volante, questionava sua rotina turbulenta e cheia de plantões. Não via sentido naquilo. Bem o oposto do que sente hoje ajudando a restaurar a vida de pessoas em meio a guerras, doenças, violência social e catástrofes naturais.

Depois de Uganda, Carla passou pelo Iraque e no momento está na Cisjordânia. Com a família, ela se comunica duas vezes por mês pelo Skype e, num único e-mail mensal, dá notícias a todos os amigos. A psiquiatra não tem namorado, filhos nem planos para tanto. Uma médica pode se casar durante a missão, mas, se ela engravidar em áreas endêmicas, terá de abandonar o trabalho para não oferecer riscos ao bebê.

A aridez da missão faz a psiquiatra se perguntar, constantemente, por que escolheu esse caminho. "Sei que o trabalhador humanitário está mais sujeito a infecção por HIV; sofre de solidão e stress cumulativo por ficar longe de casa, da língua nativa; enfrenta, às vezes, alojamentos sem energia elétrica, tomando banho de balde. Tudo isso o torna mais suscetível ao suicídio e ao abuso de álcool e drogas", reflete. "Mesmo assim, a resposta é clara: minha vocação é estar no mundo, entre as pessoas que têm as demandas mais agudas e urgentes. É desse modo que resolvo os meus conflitos internos e me sinto realmente feliz."

CISJORDÂNIA
No fim de 2008, o conflito entre Israel e a Faixa de Gaza se intensificou: o Exército israelense bombardeou o local para cercear o lançamento de foguetes do Hamas, o grupo radical islâmico que controla a área. Em janeiro, o saldo de mortos em Gaza chegou a 700, e o de feridos a 2,5 mil. O reflexo do pavor se estendeu à vizinha Cisjordânia, outro território palestino sob ocupação de Israel. Carla chegou a Hebron, na Cisjordânia, em 23 de janeiro de 2009 e permanecerá lá até outubro.



Carla em atendimento domiciliar na região de Hebron
Quando me instalei, a cidade respirava sob um cessar-fogo. As pessoas têm medo de que o próximo alvo de bombas seja a Cisjordânia. Durante a guerra, a população passava o dia vendo os ataques na TV Al Jazeera. Não há um só árabe aqui que não tenha parentes em Gaza. Tratamos sintomas depressivos, ansiedade e pânico com técnicas da terapia cognitiva comportamental e da arte-terapia em até 12 encontros. Se há necessidade de remédio, encaminhamos para o centro de saúde mental do governo.

As crianças são as mais afetadas. Elas não querem dormir sozinhas e relatam sonhos terríveis. Uma menina cobriu suas bonecas alegando que elas não podiam mais brincar porque haviam morrido como os moradores de Gaza. Outra, de 12 anos, foi atingida por uma bala de borracha perdida, disparada por soldados israelenses no contra-ataque a garotos que atiravam pedras. Ela sofreu de insônia por 15 dias. Num outro episódio, um rapaz de 16 anos, que também atirava pedras, acabou preso. A mãe, angustiada com a prisão, perdeu o apetite, o ânimo e a concentração. Após três sessões individuais, ela apresentou melhoras. Um jovem de 18 anos, que se recusou a ficar de pé em posição de revista, tomou um tiro nas costas e teve o pulmão e duas vértebras afetados. Relata dores, falta de ar e sentimento de morte.

Eu também me cuido: uma vez por mês vou a Jerusalém para supervisão técnica e suporte psicológico com a nossa equipe. O desabafo me ajuda a administrar o impacto dos casos que ouço e a manter o equilíbrio.

Como a maioria dos atendimentos é domiciliar, passo muito tempo fora do escritório, com um motorista e uma tradutora. De folga na sexta e no sábado, posso dirigir e andar pelas ruas. Hebron é bonita e tem frutas e verduras variadas, roupas, eletroeletrônicos. As mulheres andam de véu e saia longa; as estrangeiras podem usar manga curta e saia abaixo dos joelhos. Sempre ouço a palavra salamalekum, que significa "a paz sobre você". Mas o retrato do momento, para mim, é o muro que separa palestinos e israelenses - tanto o de concreto quanto o abstrato, bem mais difícil de ser compreendido.

UGANDA
O Exército de Resistência do Senhor (LRA), de orientação fundamentalista cristã, tenta derrubar o presidente Yoweri Museveni, que está no poder desde 1986 e reage com pesados ataques.

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